Você acha que dinheiro não traz felicidade?

Este texto aborda um dos conceitos mais clássicos e comentados do grande universo das Finanças Pessoais, o binômio dinheiro e felicidade. Esta combinação encontra a sua maior pronúncia na indagação: Dinheiro traz felicidade?

A resposta mais comum é um sonoro “não”… E a brincadeira mais ouvida após o não é aquela que diz que se não traz, manda buscar.

Eu não concordo nem com o sonoro não, tampouco com o “manda buscar”.

Em minha visão dinheiro traz sim felicidade! Não concorda? É porquê você está gastando mal.

Primeiro um conceito básico: Dinheiro serve para ser gasto. Não disse que serve para ser gasto todo hoje, mas que serve para ser gasto. Se tiver que desenvolver melhor a afirmativa digo que dinheiro serve para ser gasto hoje e sempre e para isso eu preciso também poupar no presente para continuar gastando no futuro.

Se o dinheiro serve para ser gasto então ele pode sim trazer felicidade, basta gastar bem… Agora, o que é gastar bem? … Não tem nada a ver com o dinheiro e nem com finanças… Continue comigo.

Gastar bem é uma agenda reservada ao seu Plano de Vida e não ao seu Planejamento Financeiro. Gastar bem é uma agenda íntima e que deve ser desenvolvida não através de julgamentos e/ou padrões de certo e errado, mas sim a partir de uma agenda maior que somente é encontrada se a pergunta for dirigida ao seu Plano de Vida. De forma prática: Gastar bem pode ser tanto financiar um imóvel como gastar com o pagamento de um aluguel para o resto da vida. Pode ser viajar ou comprar algo, pode ser vestir-se bem ou gastar bastante com lazer.

Então pode tudo? Pode! Mas pode mais e pode “melhor”quem pode a partir de um propósito maior do que a agenda singular do consumo ou da comparação entre “isso ou aquilo”. A comparação entre isso e aquilo é sempre uma comparação horizontal e conflitante, ou seja, ou este ou aquele caminho… É uma agenda 2D (2 dimensões). A agenda do “pode” (como a agenda do devo e do mereço) deve ser desenvolvida a partir de uma terceira dimensão, a dimensão do porquê das coisas, a dimensão de um propósito maior do que aquilo que está “em jogo” na comparação.

Ainda no exemplo prático do financiar ou alugar: Se for pelo lado emocional as chances são grandes da decisão ser pela casa própria financiada. Se o lado racional falar mais alto e se contas forem feitas “na ponta do lápis” e com precisão, o aluguel leva uma nítida vantagem… E muitas vezes as discussões ficam reservadas à estas 2 esferas: a razão e a emoção… E as decisões também são tomadas assim… E na grande maioria das vezes nos arrependemos… Oras, por que isso ocorre? Por que é que mesmo o mais emocional se decepciona com as decisões emotivas que toma e o racional se arrepende das escolhas pragmáticas que faz?

Isso ocorre devido a falta de um propósito maior a partir do qual as nossas decisões se submetem, ora de maneira mais racional, ora de maneira mais emocional, mas idealmente sempre “propósito-centradas”.

Dois casos reais na mesma temática do alugar vs. financiar.

Caso1: Tenho um casal de clientes jovens que se deparou com esta decisão entre financiar ou continuar com o aluguel. Trouxeram esta reflexão para uma de nossas reuniões e perguntaram a minha opinião. Um dos caminhos que eu poderia seguir era o de ajudá-los em uma análise das condições externas, ou seja: preço do imóvel, condições de compra, custo de financiamento, prazo, alternativas, segurança contratual, etc e condições internas: orçamento do casal, momento de vida, fluxo de caixa, alocação e performance dos investimentos, etc. Poderia ter feito isso e ainda uma comparação entre uma alternativa e outra ao longo do tempo… Poderia ir além e recuperar as nossas conversas acerca dos outros projetos de vida do jovem casal e como é que aquilo se enquadraria na decisão pelo financiamento ou continuidade pelo aluguel… A verdade é que até fizemos um pouco disso tudo, mas não foi, nem de perto, o enredo que seguimos para a tomada de decisão.

O caminho que escolhemos foi uma profunda, abrangente, sincera e amorosa reflexão acerca do porquê das coisas no amplo contexto do Plano de Vida daquele casal. Tudo começou com uma simples pergunta: Qual é o estilo de vida que os permite ser a melhor versão do que podem se tornar?

Esta pergunta nos levou a uma inspirativa conversa sobre o que eram e o que gostariam de ser e nos desviou do comparativo entre comprar e alugar. Com esta pergunta começamos a criar a terceira dimensão que passou a servir de eixo central para não apenas esta decisão, mas para todas as demais deste jovem casal. A reflexão foi extensa e preencheu não apenas uma, mas 3 reuniões nossas. A conclusão foi que este casal valoriza a mobilidade acima de tudo e que tem como objetivo central de suas vidas poder viajar e apresentar o mundo, literalmente o mundo, para seus 2 filhos. Um dos planos concretos que esta reflexão criou foi a intenção do casal de morar pelo menos 1 mês por ano em uma cidade diferente no mundo. Que agenda inspiradora! A partir dela a decisão entre comprar e alugar transcende as questões financeiras, gerencia a questão emocional e colore os aspectos racionais. Não é mais uma comparação “curta” entre isso ou aquilo, mas sim uma reflexão 3D que se submete ao propósito maior, a agenda que os permite ser a melhor versão do que eles enxergaram que podem se tornar a partir da experiência de morar “no mundo”. Mobilidade não combina com imóvel e então este jovem casal reposicionou todo o seu Planejamento Financeiro Pessoal para a concretização deste Plano de Vida e o aluguel foi a escolha natural e tranquila.

Caso 2: Um outro casal, também jovem, mas com apenas 1 filho. A mesma escolha foi colocada sobre a mesa em uma reunião: Financiar ou alugar. Neste caso eles precisavam ir para um imóvel maior, ou seja, mudariam-se de qualquer maneira, apenas precisavam de aconselhamento sobre o que fazer. A mesma pergunta foi feita ao casal: Qual é o estilo de vida que os permite ser a melhor versão do que podem se tornar?

Reparem que a pergunta não é sobre o estilo de vida que tem ou que gostariam de ter. Isso, como planejador desta família eu já sabia… É o mínimo que nos compete saber para uma orientação adequada. Tampouco a pergunta é dirigida ao que gostam de fazer ou ter. É uma pergunta sobre a melhor versão de si mesmo… Não é sobre ser melhor do que alguém, até porquê ser melhor do que alguém é sempre algo limitante uma vez que este alguém é de um jeito, por melhor que seja… Ao perguntar sobre a melhor versão de si mesmo, todos os limites são tirados da reflexão, o que permite à resposta um caminho multidimensional e altamente inspirador.

Neste caso as nossas conversas precisaram de ainda mais tempo. Depois de 5 reuniões chegamos a uma frase que representa precisamente o propósito da família: “A família “X” torna-se a melhor versão de si mesmo quando reune pessoas queridas ao redor de uma mesa e com a companhia de um bom papo”. Neste caso, o financiamento era o caminho a seguir, mesmo com todo os entraves racionais e matemáticos que existiam e com o possível, mas rapidamente dissolvido desconforto emocional com a dívida que pairava sobre o pai da família. Ele cresceu tanto com a reflexão da melhor versão de si mesmo que isso o permitiu combater crenças pessoais de maneira tão eficiente que o economizou, segundo ele, anos de terapia… Depois ele mesmo veio reconhecer que o nosso processo todo, apesar de não ser terapia, é extremamente terapêutico.

Então, dinheiro traz felicidade? Traz sim, se bem gasto! O que é gastar bem?

Não é uma agenda 2D, ou seja, não é através de comparações que você chegará a uma boa resposta.

É uma agenda 3D. O terceiro eixo é o seu propósito maior. Como chegar neste propósito maior? Minha recomendação: Através da pergunta: Qual é o estilo de vida que te/os permite ser a melhor versão do que pode/podem se tornar?

Esta reflexão é muito poderosa se feita em um contexto adequado no qual os participantes estão dispostos a se engajarem em uma reflexão profunda e idealmente assistida por um profissional que não está ali como um juiz, mas sim como um aprendiz desta agenda maior.

Esta é a maneira como desenvolvemos o nosso trabalho como PlanejadorLife™ com nossos clientes, ou seja, assumindo o risco de trazer reflexões profundas e abrangentes para nossas reuniões que provoquem e inspirem nossos clientes a serem a melhor versão de si mesmos.

Dinheiro traz felicidade quando usado à serviço da melhor versão do que podemos ser. Sabemos que encontrar esta agenda maior, este propósito forte e transformador não é uma tarefa fácil. Crenças limitam, medos paralisam, frustrações emergem e sem a ajuda de alguém e/ou de uma metodologia é provável que a reflexão se perca em sua intrínseca complexidade.

Mas quando feita de maneira amorosa, respeitosa, paciente e com o espírito de aprendiz, eu devo dizer que nunca vi nada tão poderoso para transformar a vida de pessoas. As decisões deixam de ser uma questão de dizer um único sim para uma única coisa e infinitos nãos para todas as demais e passa a ser um exercício de fortalecimento do ser, uma vez que está se submete a terceira dimensão que é o seu propósito, que é a melhor versão de si mesmo.

Se ao longo da vida você puder fazer escolhas que o permita tornar-se a melhor versão de si mesmo, isso te faria feliz?

Se você usasse o seu dinheiro para viabilizar estas escolhas, isso te faria feliz?

Dinheiro traz felicidade?

Fonte: Blog Televendas