Pesquisa da Anbima e do Datafolha aponta o que mudou no hábito financeiro das pessoas durante a crise
São Paulo — Chegou no fim do mês e você está sem dinheiro. Aí, lembra daquela câmera fotográfica que já não usa mais e pensa: vou vender! Ou então você vai ao supermercado e, em vez de colocar no carrinho aquele produto de marca, opta por um semelhante, mais barato. Esse tipo de situação é cada vez mais comum na vida dos brasileiros.
É o que mostra uma pesquisa realizada pela Anbima (Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e quantificada pelo Datafolha, obtida com exclusividade pelo site EXAME. Segundo o levantamento, 94,45% dos brasileiros já tomaram alguma atitude para minimizar os gastos mensais.
Foram ouvidas 2.653 pessoas em 130 municípios brasileiros, em junho deste ano. A margem de erro é de dois pontos percentuais, dentro do nível de confiança de 95%. As entrevistas foram feitas com maiores de 16 anos, pertencentes às classes A, B e C, que fossem PEA (População Economicamente Ativa), aposentados ou que vivessem de renda.
Entre as principais práticas das pessoas para minimizar gastos estão a substituição por produtos mais baratos ou sem marca (72%), a decisão de não adquirirem itens de vestuário ou supérfluos (71%) e a substituição de viagens de férias por destinos mais baratos ou opções de lazer gratuitas (71%).
“Estamos em um período de crise, muitas pessoas perderam o emprego ou estão com medo de perder. Nesse cenário, as pessoas se veem obrigadas a fazer algum tipo de ajuste, seja porque estão passando por dificuldades financeiras ou porque não querem chegar nesse ponto”, diz Martin Iglesias, vice-presidente do Comitê de Educação da Anbima.
“Entre as decisões mais adotadas, estão a substituição de produtos mais caros por mais baratos ou viagens para lugares mais em conta. As medidas mais drásticas, que envolvem uma mudança efetiva na qualidade de vida de cada um, têm adesão bem menor, como buscar uma renda extra, por exemplo, ou deixar o carro de lado em alguns dias da semana”, afirma Iglesias.
Isso não chega a ser preocupante, segundo o especialista, afinal de contas as pessoas estão claramente preocupadas financeiramente, em maior ou menor grau. “Mas pela dimensão da crise no país, talvez as medidas um pouco mais drásticas devessem ter uma adesão maior”, afirma.
“A realidade brasileira é que 52% da população não tem uma reserva financeira. Se as pessoas fossem mais poupadoras, ainda assim elas deveriam adotar medidas de contenção de gastos na crise, mas teriam mais fôlego para manter o padrão de vida caso houvesse algum imprevisto. A reserva financeira deve ser feita quando as coisas estão bem, quando a economia está bem e as pessoas estão confiantes.”
A tendência do compartilhamento também passou a ser realidade para boa parte da população. Entre os entrevistados, 40% afirmaram que já trocaram produtos ou venderam itens que não usam mais, 31% trocaram serviços com outras pessoas e profissionais, 25% compartilharam carros e serviços de transportes em geral e 17% montaram grupos para fazer compras em conjunto
Veja o resultado completo da pesquisa:
Tomou alguma atitude para minimizar gastos | 94,45% |
Comprar marcas mais baratas ou produtos sem marca | 72,23% |
Deixar de comprar itens de vestuário ou outros menos necessários | 70,76% |
Procurar opções de lazer gratuitas e viagens de férias mais baratas | 70,54% |
Trocar produtos ou vender coisas que não uso mais | 40,29% |
Trocar serviços com outras pessoas e profissionais | 31,13% |
Compartilhar carro, veículos, transporte em geral | 25,16% |
Compartilhar serviços com outras casas – diária da faxineira, babá, etc | 18,95% |
Montar um grupo para fazer compras em conjunto | 16,89% |
Compartilhar casa – morar junto com outras pessoas, alugar cômodos da casa, receber viajantes (airbnb, Rotary, etc) | 16,44% |
Economizar água/ luz / energia/ diminui o tempo no chuveiro | 1,35% |
Diminuir os gastos / compra apenas o necessário | 0,92% |
Aumentou a renda para enfrentar a crise (um segundo trabalho/ vende produtos) | 0,73% |
Andar a pé/ de bicicleta/ para economizar condução/ gasolina/ circula menos de carro | 0,57% |
Diminuiu os gastos com baladas/ passeios | 0,45% |
Pesquisa antes de comprar/ faz planejamento | 0,41% |
Deixou/ diminuiu a ida a restaurantes/ faz as refeições em casa | 0,24% |
Cortou gastos supérfluos (academia/ internet/ tv por assinatura/ viagem) | 0,22% |
Compra produtos em promoção | 0,16% |
Dispensar a faxineira/ faz a faxina de casa | 0,11% |
Evita/ negocia as dívidas/ organização nas contas | 0,08% |
Outras respostas | 1,74% |
Não tomou alguma atitude para minimizar gastos | 5,55% |
Fonte: Exame.com