Como administrar suas finanças com um salário inicial médio

Os primeiros anos de vida profissional não são mais difíceis apenas pela adaptação ao mundo corporativo. Além da preocupação em dar os passos certos no início da carreira, vem a responsabilidade de administrar bem o salário recebido, que não costuma ser muito alto.

De acordo com os dados da pesquisa do Guia Melhores Empresas para Começar a Carreira, realizada em parceria com a Fundação Instituto de Administração (FIA), o salário médio pago aos profissionais entre 18 e 26 anos nas 40 empresas com melhores práticas de gestão para o jovem é de 2 700 reais. Com uma inflação em torno de 7%, será que é possível pagar as próprias contas sem entrar no vermelho e poupar para realizar projetos pessoais recebendo essa quantia?

“Independentemente do valor do salário, é preciso conhecer seu custo de vida e estabelecer os objetivos a serem alcançados. Assim é que se cria o hábito de poupar”, diz Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros e da consultoria DSOP Educação Financeira, de São Paulo.

Cuidar bem do próprio dinheiro é importante não só para ficar no azul mas também para fazer boas escolhas profissionais e assegurar o crescimento de carreira. “Quem não lida bem com o dinheiro e não faz reservas pode acabar tomando decisões considerando apenas o salário, e não a melhor oportunidade”, afirma Conrado Navarro, do site Dinheirama.

Por outro lado, quem tem uma vida financeira organizada pode fazer um planejamento mais cuidadoso de sua carreira. “A pessoa pode optar mais facilmente por trocar de trabalho ou até empreender, se quiser. Sem contar que evita problemas de desempenho relacionados ao endividamento, como baixa produtividade, absenteísmo e estresse”, diz Conrado.

O analista comercial paulistano Luiz Henrique Ramos, de 24 anos, é um dos que enxergam a boa administração do dinheiro como um investimento na carreira. Mesmo ganhando 2 400 reais líquidos, ele inclui no orçamento um MBA na Fundação Getulio Vargas de São Paulo. “O valor da mensalidade consome cerca de 60% do meu salário, e ainda poupo 20% dele para um intercâmbio que pretendo realizar. O restante uso para cobrir as despesas”, afirma.

Como ele tem priorizado os investimentos na carreira, foi preciso adiar os planos de morar sozinho. “Por morar com meus pais, não tenho gastos com moradia, e isso alivia muito o meu orçamento”, diz ele. Mesmo assim, para não perder o controle de quanto pode gastar, Luiz anota todas as despesas, opta por comer sempre em casa em vez de nos restaurantes da faculdade e limitou as saídas a uma vez por mês. “Troquei o cinema ou a balada pelo Netflix”, diz.

Mas e quem não conta com a facilidade de morar com os pais? A assistente financeira Layane Oliveira, de 23 anos, de São Paulo, se enrolou com as faturas do cartão de crédito depois que se casou, há dois anos. “Quando morava com meus pais não precisava ajudar nas despesas da casa e gastava muito com roupas, sapatos, restaurantes. No ano passado, com as contas da casa, não consegui mais pagar as faturas e entrei no rotativo, naquele efeito bola de neve”, afirma.

Para se reorganizar, Layane buscou um serviço de assessoria financeira oferecido pela empresa onde trabalha. Ela aderiu a uma planilha para registrar todo o dinheiro que entra e que sai, diminuiu as compras parceladas – as grandes vilãs do seu orçamento – e, ao lado do marido, passou a buscar opções de lazer mais baratas. “Agora procuramos descontos em sites de compras coletivas e diminuímos a frequência dos passeios”, diz.

O esforço concentrado rendeu resultados. Quase um ano depois, em maio, pela primeira vez, Layane está conseguindo poupar dinheiro. “Liquidei os parcelamentos e consegui guardar 10% do meu salário”, diz ela. “Agora, em no máximo cinco anos, pretendo dar entrada na casa própria”, afirma.

Layane Oliveira, assistente financeira: quase um ano depois de organizar as contas, ela já está conseguindo poupar

Para Thiago Alvarez, do aplicativo de planejamento financeiro GuiaBolso, Layane está indo pelo caminho certo ao evitar as compras parceladas no cartão. “Os parcelamentos sem juros são uma armadilha, porque fazem com que o consumidor acumule uma série de prestações. Num determinado momento, todo o orçamento pode ficar comprometido por causa delas, sem que sobre dinheiro para as despesas básicas do dia a dia”, diz.

Por isso, o ideal é fazer um parcelamento de cada vez, e só para projetos realmente caros, como financiar um veículo ou um imóvel. Esses projetos, por sua vez, exigem atenção redobrada. “O jovem precisa ter paciência para concretizar os sonhos de consumo, e não achar que só porque está ganhando seu dinheiro pode sair comprando tudo”, diz Conrado Navarro.

“Nossas pesquisas mostram que grande parte dos brasileiros não sabe quanto ganha de verdade e superestima sua renda em cerca de 8%. Isso é um problema, porque dá uma falsa sensação de ter mais dinheiro do que se tem”, diz Thiago Alvarez.

Fonte: Exame.com